domingo, 27 de fevereiro de 2011

Um Novo Corolário Político

Vide esta afirmação de Frank Walter Steinmeier, ministro de Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro da Alemanha, em um artigo publicado no jornal Valor de 20.11.07, intitulado: Por uma parceria asiático-européia.

“A ascensão da Ásia no cenário econômico e político exemplifica o fenômeno da globalização. No fim desta década, a economia chinesa será maior que a da Alemanha. Em 2040, a Ásia concentrará três das cinco maiores economias do mundo: China, Índia e Japão”.

Mesclada com manchetes sugestivas como as de um recente artigo da revista Economist, intitulado “América’s vunerable economy”, onde se perguntava: “Recession in America looks increasingly likely. Can booming emerging markets save the world economy?”, a afirmação do ministro alemão expressa, se não uma certeza , pelo menos figura como unanimidade entre os diversos analistas, de que os países emergentes tornaram-se protagonistas da nova cena econômico-política global.

Com crescimento do PIB entre 4,0% e 21,1% , alguns deles em patamares que tem se sustentado por sucessivos períodos, os “emerging markets” vêm atraindo a atenção de analistas de toda parte. Talvez por eles representarem, em alguma instância, a esperança da manutenção de uma economia global aquecida, mesmo frente às últimas turbulências que vêm atingindo os mercados financeiros ao redor do mundo, ou talvez pela sua função de catalizadores de uma mudança, verificada na circulação do fluxo de capital desta nova economia global. Contudo uma consideração merece ser feita, dado aos diversos elementos trazidos à discussão: a novas e singulares realidades políticas que não podem ser ignoradas.

Uma pesquisa realizada pelo Latinobarometro, em 18 países da América Latina, publicada pela revista Econimist e traduzida pelo jornal Valor, aponta que a maioria dos latino-americanos estão desiludidos com a economia de mercado e por isso aspiram uma presença maior do Estado com vistas a uma distribuição de renda mais justa com uma maior proteção social.

E é em nome, também, da justiça social, que o presidente venezuelano propôs o plebiscito que decidirá o rumo das reformas político-sociais em curso naquele país, cujo resultado espelhará a vontade da maioria de sua população, e que deverá ser respeitada em nome da soberania do país, independentemente das acusações de populismo que recaiam sobre o governo de Hugo Chávez.

Com suas reservas cheias de moeda forte, os emergentes têm apresentado para o mundo realidades que talvez difiram um pouco “do modelo europeu, com ênfase num arranjo justo para todos”, que Frank-Walter Steinmeier gostaria de ver disseminado, talvez pela tendência de uma economia com forte presença do Estado, como forma de assegurar uma distribuição de renda mais justa e um Estado com maior proteção social.

O que se assiste na nova cena global é a ação de países, outrora ligados a “periferia”, quando estava em discussão o fluxo de capitais na economia mundial. Tais países apresentam-se como “enriquecidos parceiros”, em grande parte por continuar detendo as principais “comodities”, que desde os antigos pactos coloniais, são fundamentais para o funcionamento da “máquina econômica global”. Além disso atingiram um certo “nível de desenvolvimento” no que diz respeito a investimentos e consumo doméstico, após terem seguido o receituário de “Breton Wods”, que os mantêm como imprescindíveis, mas com um grau de autonomia talvez nunca visto na história do desenvolvimento econômico da modernidade.

Isto inquieta os economistas, e enseja discussões em torno da dimensão do “welfare state” que supere, da melhor forma possível, o “trade-off”entre eficiência e distribuição de renda. É em nome desta mesma eficiência que Sarkozy não abre mão de implementar certas reformas na França, revertendo determinados “direitos” (para muitos conquistas e para outros privilégios) trabalhistas, que segundo alguns analistas pouco representariam em termos de retorno financeiro, mas, muito mais, atenderia a expectativa de uma “parcela da população” responsável por sua eleição.

E como representantes deste novo corolário político, à sombra dos conflitos que sempre ocuparam posição de destaque na mídia ocidental, é que surge um novo Oriente Médio o qual tem atraído a atenção, se não de uma grande massa, pelo menos de empresários que já se conscientizaram ser impossível deixá-lo de fora dos seus planos globais de crescimento. Com um crescimento econômico de ritmo acelerado, grande parte graças ao intenso fluxo dos petro-dólares, as nações do GCC (Gulf Cooperation Council) juntas, nos últimos cinco anos, receberam US$ 1.5 trilhão pela venda do seu petróleo, de acordo com o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que afirma ser possível em 2030, a zona do GCC tornar-se a 6ª maior do mundo em termos de crescimento econômico. Uma região onde tudo gira em torno de um “modelo próprio” de crescimento. Bem diferente do proposto pelo vice-primeiro-ministro alemão, nos Emirados Árabes Unidos a competitividade do setor privado, crescimento econômico e princípios de boa governança corporativa independem de um Estado democrático ou de eleições diretas. Isto não impede que cidades como Dubai possam expandir sua economia na casa de 16% ao ano, praticamente o dobro do crescimento chinês, o que muito bem pode ser capaz de colocar a região entre as supostas 05 maiores economias do mundo, ao lado de China, Índia e Japão. Agora resta saber, e talvez o Fuhrer alemão possa nos responder, qual seria a quinta???

Nenhum comentário:

Postar um comentário