domingo, 27 de fevereiro de 2011

Os Fenômenos de Regularidade Complexa

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O presente estudo é fruto de pesquisas experimentais e meditações realizadas durante um dia inteiro que sucedeu certa grande polêmica da hora de almoço. Em vista da dificuldade e da vastidão da matéria, meu trabalho não quer nem pode pretender ser uma apresentação completa e uma certeza absoluta das afirmações e conclusões; ao contrário reúne em si todas as desvantagens do ecletismo de um funcionário de empresa S/A com supostas pretensões intelectuais-acadêmicas, de modo que a muitos leitores há de parecer que ele é uma profissão de fé e não um trabalho científico. Tanto faz! O principal é mostrar a meus leitores de que maneira, através da pesquisa sobre a repetição dos fenômenos, obtive algumas intuições que considero capazes de oferecer um novo e frutífero direcionamento para as questões sobre os fundamentos da ciência estatística nas diversas áreas do campo social, e este  dito como realidade material.

- Anjinho, não atravesse a rua sem olhar para os dois lados pra ver se vem carro.

Ora tal afirmação nos parece, no mínimo, banal, de tão óbvia. Não porque a rua em frente da casa da mãe do tal anjinho, fosse palco de constantes atropelamentos. Talvez nenhum sequer, enquanto a família morava lá. Mas a experiência, reforçada pela lógica, que embora não seja um atributo intrínseco de todo raciocínio, mas presente mesmo que de forma diminuta em certas operações associativas do cérebro, permitirá que se chegue a conclusão acerca da importância de uma “checada básica” nos dois lados de uma rodovia de mão dupla, antes que se inicie qualquer travessia. Pode ser que a experiência, vez por outra, acabe contrariando a lógica do raciocínio e que um infeliz que atravesse a pista, sem o mínimo cuidado e sem dar a mínima para os carros em alta velocidade, escape sem um arranhão. Ou então, que um filho obediente e cuidadoso que não ousa por o pé fora da calçada antes de olhar um sem números de vezes para os dois lados, ao iniciar sua travessia seja atingido pela turbina de um avião que acabou de despencar dos céus. Bom, então seria possível afirmar que esta experiência contrarie o bom senso e jogue por terra o conselho da mãe zelosa? De forma alguma. É neste momento que entra em cena a ciência estatística. Ela tem servido como ferramenta de suporte aos diversos prognósticos, quer sejam eles de cunho materno e com o claro objetivo de livrar os miúdos dos perigos deste mundo cão ou para dimensionar a probabilidade dos eventos aleatórios acontecerem desta ou daquela maneira e assim deduzir uma regra para medir a regularidade da combinação das possibilidades de certos fenômenos se repetirem.

A probabilidade de um evento geralmente é representada como um número real entre 0 e 1. um evento impossível tem uma probabilidade de exatamente 0, e um evento certo de acontecer tem uma probabilidade de 1. Porém a maior parte das probabilidades que ocorrem na prática são números entre 0 e 1, que indica a posição do evento no contínuo entre impossibilidade e certeza. Quanto mais próxima de 1 seja a probabilidade de um evento, mais provável é que o evento ocorra. Por exemplo, se dois eventos forem ditos igualmente prováveis, como por exemplo em um jogo de cara ou coroa, podemos exprimir a probabilidade de cada evento - cara ou coroa - como "1 em 2", ou, de forma equivalente, "50%". Contudo nem sempre afirmação probabilística, mesmo as mais intuitivas, são simples. Consideremos um jogo de cara ou coroa. Intuitivamente, a probabilidade de dar cara, qualquer que seja a moeda, é "obviamente 50%"; porém, esta afirmação por si só deixa a desejar quanto ao rigor matemático - certamente, enquanto se pode esperar que, ao jogar essa moeda 10 vezes, teremos 5 caras e 5 coroas, não há garantias de que isso ocorrerá; é possível, por exemplo, conseguir 10 caras sucessivas. O que então o número "50%" significaria nesse contexto?

O assunto começar a complicar quando os eventos fazem parte de um grupo de fenômenos conhecidos como os de regularidade complexa, onde as variáveis envolvidas superam, em muito, os dois lados da moeda. Em todos estes casos - os de regularidade complexa ou simples – a principal dificuldade é que não se pode projetar ao infinito a repetição da ação, a fim de confirmar, literalmente, a nossa intuição. Uma porque não temos todo o tempo do mundo à nossa disposição e outra que não podemos nos dar ao luxo de sacrificar nossos entes queridos através das rodovias de mão dupla, num número suficiente de vezes que seja capaz de comprovar que tal ato irresponsável possui uma alta probabilidade estatística de ser letal. Até porque, hoje em dia, até os animais de laboratório que cumprem o seu valoroso papel no desenvolvimento da ciência humana são nossos entes queridos, possuindo direitos que evitam o seu uso indiscriminado e gratuito. Assim, o método da ciência estatística procura trabalhar com a repetição limitada dos eventos em um determinado campo amostral, delimitando este espaço e medido a frequência com que o evento se repete.

A descoberta de métodos rigorosos para estimar e combinar probabilidades tem tido um impacto profundo na sociedade moderna, permitindo que muitos cidadãos compreendam como estimativas de chance e probabilidades são feitas e como elas contribuem em questões consideradas vitais para os seres humanos, a exemplo da reputação de homens que afirmam “nunca terem falhado”, em decisões acerca de aplicações no mercado financeiro ou na injeção de ânimo em torcedores cujos times estão ameaçados de serem rebaixados para a série “B”. Contudo o método não possui a pretensão de prever os acontecimentos futuros, mas apenas de quantificar a possibilidade de que os mesmos aconteçam ou não. Desta forma, embora se afirme que a probabilidade de ser atingido pro um raio é 1 em 576.000 e que a de morrer por este evento trágico é de 1 em 2.320.000, nuca sei em que lugar, entre os números 1 e 2.320.000, me encontro. Desta forma evito ficar de “bobeira” por aí nos dias de tempestade. Do mesmo modo, mesmo que as estatísticas afirmem que um evento qualquer desfavorável tem 70% de chances de acontecer, mantenho-me confiante, uma vez que o imponderável insiste em dar uma “mãozinha” à arte de contrariar as estatísticas (quem não se lembra da tarde de 13 de outubro de 1968 ), principalmente nos fenômenos de regularidade complexa.

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