domingo, 27 de fevereiro de 2011

Diagnósticos e Prognósticos da Crise

16/09/08

Mais de US$ 16 trilhões foram apagados dos ativos globais neste ano, enquanto a maior elevação no número de inadimplência de créditos hipotecários nas últimas três décadas provocou US$ 514 bilhões de perdas e prejuízos.

Se pudéssemos resumir o diagnóstico sobre o que está acontecendo na economia americana, diríamos que ela está sofrendo a conseqüência de um longo período de aparente estabilidade e crescimento, que provocou um otimismo excessivo do mercado financeiro e de capitais, agentes financeiros e investidores, aliada a uma política monetária frouxa, particularmente a de manutenção de juros inferiores a 2% a.a, entre dezembro de 2001 e novembro de 2004, que provocou a enxurrada de liquidez que vemos evaporar rapidamente dos balanços ao redor do globo.

E caso tentássemos, sinteticamente, prever os movimentos futuros deste, hoje, mundo globalizado, frente à profunda crise na maior economia do planeta, diríamos que ao invés de uma crise sistêmica que leve o mundo a uma profunda depressão e estagnação, iremos assistir a um forte ajuste de mais um ciclo econômico que ainda não se fechou, e onde o redimensionamento de uma exagerada alavancagem se fazia necessário.

Partamos às justificativas: como a economia mundial deverá conseguir se livrar de mais esta crise que vem tirando o sono de uma parcela cada vez maior de agentes, que parecem se estarrecer a cada novo movimento do mercado, sem que uma crise sistêmica se espalhe por toda a economia global?

Primeiramente, surge a constatação que o fluxo do capital volátil não mais obedece ao antigo centro gravitacional entre centro e periferia. Cada vez mais circulante e distribuído em rede, ele é fruto, em grande parte, do desenvolvimento econômico de países localizados na, outrora, periferia econômica, mas que hoje já podem ser considerados, em grande parte, como garantidores da liquidez global, a partir do fortalecimento de sua economia, mercados e de seus sistemas bancários, antes tão vulneráveis a perturbações da espécie, capaz de fazer desmoronar seus arranjos financeiros domésticos e externos. A grande acumulação das reservas destes países e o superávit de suas contas externas, face ao significativo fluxo de investimentos diretos de longo prazo, vêm tornando-os, cada vez mais, fundamentais para a blindagem de uma contaminação sistêmica da desaceleração das economias, antes ditas centrais, enquanto durar o ajuste nos portfólios dos agentes da crise.

Aliando a boa saúde dos emergentes, verificamos a coordenada ação das autoridades monetárias centrais, em sua função de emprestadores de última instância. Dispostos a continuar garantindo a oferta monetária em tempos de crise, mesmo que se para garantir a liquidez de suas economias fosse necessário “derramar dinheiro de helicópteros”, as autoridades centrais assumiram tal responsabilidade, ao custo do sacrifício, no curto prazo, de acionistas e contribuintes, frente a um “bem maior” de médio prazo.

Então, que sejam bem vindos os ajustes, e as revisões da exacerbada confiança nas práticas de “laissez-faire”, na perspectiva de retomada do maior ciclo de crescimento global já verificado na recente história da desregulamentação “pós-brettonwoodiana”, ficando, no fim, tanto os anéis quantos os dedos.

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