domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Pensamento do Devir como Ponto de Inflexão

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Chamam de amor esse querer escravo,
E pensam que o amor é alguma coisa
Que pode ser definida, explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro,
Antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?


O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música
.”

(Vênus – Paulinho Moska)

 

Sem pudor algum, denomino-me  um Deleuzeano. Talvez, da mesma forma como já o fazia há alguns anos. A diferença talvez resida no tempo;  uma questão de tempo. Não saberia precisar o exato momento que me enxerguei como um deleuzeano, embora não seja tão difícil expor os motivos de tal identificação com o pensador francês, ou pelo menos o conceito que talvez tenha exercido, em mim,  sua maior influência: o devir. O que vem a ser, então, o devir?

Num primeiro momento somos tentados a relacionar o devir ao movimento. Porém um movimento contínuo, um vir a ser, que não se conseguiria fixar em nenhum espaço, pois se possível fosse  ele perderia sua potência fundamental que é a indefinição e a instabilidade. Assim, não há como situar sua partida ou chegada. Se indefinido ele é, como poder dize-lo, então, ou mesmo pontua-lo? Talvez recorrendo a um outro conceito: o de ponto de inflexão.

De forma preliminar entende-se como ponto de inflexão, um espaço qualquer(virtual) da curva onde é impossível determinar a tendência do movimento. Contrariamente aos pontos extremos, máximos ou mínimos, o ponto de inflexão  não remete a coordenadas: não está no alto nem no baixo, nem à direita nem à esquerda, nem em regressão ou em progressão. A inflexão corresponderia ao que Leibniz denomina “signo ambíguo”. Signo da imponderabilidade; não relacionado a vetores de concavidade ou de gravidade, pois os centros de curvatura que eles determinam oscilam em torno dela”. Desta forma, a inflexão é o puro acontecimento da linha ou do ponto, o virtual, a idealidade por excelência. A inflexão do ponto é o (não)lugar que segundo eixos de coordenadas, mas enquanto   devir, não está no mundo: ela é antes do mundo, seu começo, lugar da aparição, ponto não-dimensional, ponto entre as dimensões. Um acontecimento que seria espera de acontecimento.

Esta  definição de inflexão remete ao próprio escopo do pensamento dito deleuzeano,  que sempre buscou se aliar a conceitos que, mesmo metafísicos, não procuram fixar ou determinar mas, ao contrário, remeter e derivar. Poderíamos supor aqui, que o pensamento do filósofo francês surge com  atitude que reivindica uma potência de reversão do platonismo tradicional, na perspectiva que o dualismo do filósofo grego falha em resguardar. Esta seria a alternância disjuntiva entre espaços opostos. E qual o significado  que podemos extrair desta atitude, a partir do qual se apontaria uma linha  que conduzirá  o pensamento da sobremodernidade? Explico.

Esta atitude se origina, não de forma muito precisa, na reação da modernidade à heteronomia que, ao menos, até a era dita medieval era o fundamento da verdade, critério definitivo de julgamento ou ponto de partida de qualquer tentativa de fundamentar a existência dos indivíduos no mundo, sem derivar para um ceticismo ou subjetivismo, em caso do critério ou fundamento para os juízos teimassem em residir no sujeito da existência. Assim a autoridade deveria estar fora do individuo ou mesmo do mundo. Não importa se em deuses, Deus ou qualquer transcendência fora do sujeito da ação a ser fundamentada, ela não deveria/poderia fazer parte da avalanche da descontinuidade das forças em atuação no interior dos sujeitos no mundo sensível. Talvez pudesse arriscar  dizer a essa altura  e sem pudor de parecer reducionista, já que acabo de ter me assumido como um deleuzeano, que esta atitude  acaba convergindo no pensamento de Nietzsche, o “homem que rompeu adão com facão” e que irá influenciar tudo que se seguiu até aqui em termos de pensamento filosófico, ciência, arte ou qualquer saber ou apreensão sensível que possa ser sistematizado pelo sujeito da ação.

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O Brasil não é só
Verde, Anil e Amarelo
O Brasil também é
Cor de Rosa e Carvão

Patrimônio de Antônio
Anônimo nômade
Homem que rompe Adão com facão (2x)

Seo Zé tá pensando em boi
Mais um pro Baião de dois
Seo Zé tá tangendo boi
Mais um pro Baião de dois

O Brasil não é só
Verde, Anil e Amarelo
O Brasil também é
Cor de Rosa e Carvão

Patrimônio de Antônio
Anônimo nômade
Homem que rompe Adão com facão

Seo Zé tá pensando em boi
Mais um pro Baião de dois
Seo Zé tá tangendo boi
Mais um pro Baião de dois

E a roseira flororô!

Vamos chamar
Brás Cubas
Pra dançar quadrilha
Pra subir pra Cuba
Com toda família
Se encontrarmos Judas
Celebrando budas
Perfilamos mulas

Pra abalar Belém!

O Brasil não é só
Verde, Anil e Amarelo
O Brasil também é
Cor de Rosa e Carvão

Patrimônio de Antônio
Anônimo nômade
Homem que rompe Adão com facão

Seo Zé tá pensando em boi
Mais um pro Baião de dois
Seo Zé tá tangendo boi
Mais um pro Baião de dois

Lampião findou cabôco!

(Seo Zé – Carlinhos Brown)

 

É nessa inflexão de caráter nietzschiano, que atravessa o pensamento de Deleuze, onde vamos seguir o rastro da linha distintiva entre o sobre e o moderno, uma vez que a partir desta linha, o moderno passa a ser, facilmente, separado do medieval e do clássico e o próprio tempo assume um sentido de presente absoluto. A linha que além de reunir o tempo em uma única dimensão liga os conteúdos a partir de um traço disjuntivo que roga pela alternância, descontinuidade e pelo fluxo do devir na velocidade vertiginosa do excesso.

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